por favor, deixem-nos respirar!
José Reis
Público, 12 Setembro de 2012
Chegamos, enfim, ao patamar inevitável: toda a gente volta a falar da economia. Mesmo os que fizeram carreira pública vistosa e sonante a declarar que se cortasse, cortasse, se embaratecesse o Estado, se depenasse o trabalho, se condenasse o consumo, se punisse o bem-estar, se erradicasse o investimento público, se castigasse a "vida acima das nossas possibilidades", se endeusassem as finanças públicas, nos submetêssemos a pobres credores afrontados pela nossa irresponsabilidade - mesmo estes começam a chegar ao essencial. Começam a ter conhecimento que uma economia ferida de morte é um quadro cruel e sem solução: não apenas para os perseguidos, os que vivem do trabalho e estão na esfera pública, mas para todos. Podemos, enfim, substituir os culpados. E encontrar os culpados reais: a troika, o Governo, as medidas insensatas, carentes do mínimo de sensatez. Os obcecados criaram o seu circo. E ele está a arder.
Eis os resultados: desemprego massivo, empobrecimento devastador, desconsideração dos serviços públicos, empresas desorientadas pelo sufoco, receita fiscal a cair a pique. Perturbador é o que os insensatos continuam a fazer: impostos injustos que minam gravemente a progressividade de qualquer sistema fiscal digno (é isso o que a nova taxa única sobre o trabalho significa); transferência directa de dinheiro dos bolsos do trabalho para as empresas, com consequências obviamente inúteis na criação de emprego; desafio ostensivo ao Tribunal Constitucional; aprofundamento do estado comatoso do sistema económico; afronta às bases mínimas da coesão social. Já terão entendido, com este desenho, o que é a economia?
Público, 12 Setembro de 2012
Chegamos, enfim, ao patamar inevitável: toda a gente volta a falar da economia. Mesmo os que fizeram carreira pública vistosa e sonante a declarar que se cortasse, cortasse, se embaratecesse o Estado, se depenasse o trabalho, se condenasse o consumo, se punisse o bem-estar, se erradicasse o investimento público, se castigasse a "vida acima das nossas possibilidades", se endeusassem as finanças públicas, nos submetêssemos a pobres credores afrontados pela nossa irresponsabilidade - mesmo estes começam a chegar ao essencial. Começam a ter conhecimento que uma economia ferida de morte é um quadro cruel e sem solução: não apenas para os perseguidos, os que vivem do trabalho e estão na esfera pública, mas para todos. Podemos, enfim, substituir os culpados. E encontrar os culpados reais: a troika, o Governo, as medidas insensatas, carentes do mínimo de sensatez. Os obcecados criaram o seu circo. E ele está a arder.
Eis os resultados: desemprego massivo, empobrecimento devastador, desconsideração dos serviços públicos, empresas desorientadas pelo sufoco, receita fiscal a cair a pique. Perturbador é o que os insensatos continuam a fazer: impostos injustos que minam gravemente a progressividade de qualquer sistema fiscal digno (é isso o que a nova taxa única sobre o trabalho significa); transferência directa de dinheiro dos bolsos do trabalho para as empresas, com consequências obviamente inúteis na criação de emprego; desafio ostensivo ao Tribunal Constitucional; aprofundamento do estado comatoso do sistema económico; afronta às bases mínimas da coesão social. Já terão entendido, com este desenho, o que é a economia?
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