Pesadelo em Portugal
Paul Krugman
The New York Times, 27 de Maio de 2013
O Financial Times publicou um extenso retrato, profundamente deprimente, da situação que hoje se vive em Portugal, dando destaque às condições que as empresas familiares estão a atravessar – elas que sempre foram o cerne da economia e da sociedade portuguesa e que agora se afundam em massa.
É disto mesmo que se trata. E por isso, quem quer que seja, e que ocupe não importa que lugar no debate actual - um político no activo ou um simples analista que olha para a realidade a partir do exterior - deve concentrar-se, acima de tudo, em saber como e porquê se está a permitir que este pesadelo aconteça de novo, três gerações depois da Grande Depressão.
Não me venham dizer que Portugal seguiu más políticas no passado e que tem problemas estruturais profundos. Claro que tem, como todos os países têm. Mas mesmo que se possa dizer que a situação de Portugal é mais grave que a de outros países, como pode pensar-se que a forma para lidar com esses problemas reside em condenar um elevado número de trabalhadores disponíveis ao desemprego?
A resposta para o tipo de problemas que Portugal agora enfrenta, como já sabemos há muitas décadas, é uma política monetária e fiscal expansionista. Mas Portugal não pode adoptar essa política por conta própria, dado que já não dispõe de moeda própria. Ou seja, das duas uma: ou o euro deve acabar ou algo deve ser feito para que ele funcione. Porque aquilo a que estamos a assistir (e que os portugueses estão a experienciar) é inaceitável.
O que é que poderia ajudar? Uma expansão mais forte da zona euro como um todo e uma inflação mais elevada nos países do centro europeu. Uma política monetária mais suave poderia ajudar a alcançar esses objectivos, tendo em conta que o BCE, como o Fed, é basicamente contra o limite inferior nulo. O BCE pode e deve tentar implementar políticas não convencionais, mas é necessária a máxima ajuda possível ao nível da política orçamental e não uma situação em que a austeridade na periferia é reforçada pela austeridade no centro.
Em vez disso, no entanto, o que aconteceu foram três anos em que a política europeia se focalizou quase inteiramente nos supostos riscos da dívida pública. Eu não acho que seja perda de tempo discutir como surgiu esse foco deslocado, incluindo o papel infeliz desempenhado por alguns economistas que fizeram um trabalho apurado no passado e que farão presumivelmente um trabalho apurado no futuro. Mas o mais importante agora é mudar as políticas que estão a criar este pesadelo.
The New York Times, 27 de Maio de 2013
O Financial Times publicou um extenso retrato, profundamente deprimente, da situação que hoje se vive em Portugal, dando destaque às condições que as empresas familiares estão a atravessar – elas que sempre foram o cerne da economia e da sociedade portuguesa e que agora se afundam em massa.
Não me venham dizer que Portugal seguiu más políticas no passado e que tem problemas estruturais profundos. Claro que tem, como todos os países têm. Mas mesmo que se possa dizer que a situação de Portugal é mais grave que a de outros países, como pode pensar-se que a forma para lidar com esses problemas reside em condenar um elevado número de trabalhadores disponíveis ao desemprego?
A resposta para o tipo de problemas que Portugal agora enfrenta, como já sabemos há muitas décadas, é uma política monetária e fiscal expansionista. Mas Portugal não pode adoptar essa política por conta própria, dado que já não dispõe de moeda própria. Ou seja, das duas uma: ou o euro deve acabar ou algo deve ser feito para que ele funcione. Porque aquilo a que estamos a assistir (e que os portugueses estão a experienciar) é inaceitável.
O que é que poderia ajudar? Uma expansão mais forte da zona euro como um todo e uma inflação mais elevada nos países do centro europeu. Uma política monetária mais suave poderia ajudar a alcançar esses objectivos, tendo em conta que o BCE, como o Fed, é basicamente contra o limite inferior nulo. O BCE pode e deve tentar implementar políticas não convencionais, mas é necessária a máxima ajuda possível ao nível da política orçamental e não uma situação em que a austeridade na periferia é reforçada pela austeridade no centro.
Em vez disso, no entanto, o que aconteceu foram três anos em que a política europeia se focalizou quase inteiramente nos supostos riscos da dívida pública. Eu não acho que seja perda de tempo discutir como surgiu esse foco deslocado, incluindo o papel infeliz desempenhado por alguns economistas que fizeram um trabalho apurado no passado e que farão presumivelmente um trabalho apurado no futuro. Mas o mais importante agora é mudar as políticas que estão a criar este pesadelo.
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