17 setembro 2009

educação e responsabilidade

Barack Obama
Wakefield High School Discourse, 8 de Setembro de 2009 

Estou aqui com os estudantes do Colégio Wakefield, em Arlington, Virgínia. E estão também ligados a nós, pela internet, estudantes de todo o país, do jardim-de-infância ao ensino médio. E eu estou feliz pelo facto de todos se terem conseguido juntar a nós hoje.
Eu sei que, para muitos, hoje é o primeiro dia na escola. E, para aqueles que estão no jardim-de-infância, ou a começar o ensino fundamental ou o ensino médio, este é o seu primeiro dia numa nova escola, pelo que é compreensível que estejam um pouco nervosos. Supunho que haja também alunos mais velhos a sentir-se muito bem agora, pois só já falta mais um ano. E, não importando qual o grau de ensino em que se encontram, alguns estão, provavelmente, desejando que ainda fosse Verão e que pudessem ter ficado um pouco mais na cama esta manhã.
Eu conheço essa sensação. Quando eu era jovem, a minha família viveu na Indonésia alguns anos, e a minha mãe não tinha dinheiro para me mandar para a escola onde todas as crianças americanas estudavam. Então ela decidiu que me daria aulas extra, de segunda a sexta, às 4h30. Eu não ficava feliz por acordar tão cedo. Muitas vezes, chegava a adormecer ali mesmo, em cima da mesa da cozinha. Mas, sempre que reclamava, a minha mãe limitava-se a lançar um daqueles olhares e dizia "Isso também não é nenhum piquenique pra mim, espertinho".
Por isso, eu sei que alguns de vós ainda se estão a acostumar a voltar à escola. Mas eu estou aqui hoje porque tenho algo importante para discutir convosco. Estou aqui porque quero falar convosco sobre a vossa educação e sobre o que se espera de todos neste ano lectivo.
Já fiz muitos discursos sobre Educação e falei muito de responsabilidade. Falei da responsabilidade dos vossos professores para vos motivarem, para vos fazerem ter vontade de aprender. Falei da responsabilidade dos vossos pais em vos manterem no bom caminho, em se assegurarem que vocês fazem os trabalhos de casa e não passam o dia à frente da televisão ou a jogar playstation.
Falei da responsabilidade do vosso governo em estabelecer padrões elevados, apoiar os professores e os directores das escolas e melhorar as que não estão a funcionar bem e onde os alunos não têm as oportunidades que merecem.
No entanto, a verdade é que nem os professores nem os pais mais dedicados, nem as melhores escolas do mundo são capazes do que quer que seja se vós não assumirdes as vossas responsabilidades. Se não forem às aulas, não prestarem atenção a esses professores, aos vossos avós e aos outros adultos e não trabalharem duramente, como terão que fazer se quiserem ter sucesso.
E hoje é nesse assunto que eu quero concentrar-me: na responsabilidade de cada um de vós pela vossa própria educação. Quero começar com a responsabilidade que cada um tem sobre si próprio. Todos têm algo em que são bons. Todos têm algo a oferecer. E vocês têm uma dívida para convosco mesmos em descobrir o que é isso. Essa é a oportunidade que a educação dá.
Talvez se possa ser um bom escritor - talvez até bom o suficiente para escrever um livro ou artigos num jornal - mas isso pode não se descobrir sem escrever um trabalho para a aula de inglês. Talvez você possa ser o próximo inovador, ou um inventor - talvez até suficientemente bom para inventar o próximo iPhone ou um novo medicamento ou vacina - mas pode não descobrir isso até fazer um projecto para a aula de ciências. Talvez você possa ser um autarca, um senador ou um juiz da Suprema Corte, mas pode não o descobrir até entrar numa organização estudantil ou num grupo de debates.
E não importa o que cada um queira fazer com a sua vida - eu garanto que vai precisar de educação. Quer ser um médico, um professor, um policia? Quer ser enfermeiro, arquitecto, advogado ou militar? Vão precisar de uma boa educação para todas essas carreiras. Não se pode deixar a escola e aterrar num bom emprego. É preciso trabalhar para isso, treinar e aprender.
E isso não é importante só para a vida e o futuro de cada um. O que você  faz com a sua educação decidirá nada menos que o futuro deste país. O que se aprende na escola hoje irá determinar se nós, como nação, podemos enfrentar nossos maiores desafios no futuro.
Cada um vai precisar do conhecimento e da habilidade para resolver problemas que se aprendem em Ciências e em Matemática para curar doenças como o câncer e a Aids, para desenvolver novas tecnologias de energia e para proteger o nosso ambiente. Cada um vai precisar das ideias e do pensamento crítico que se ganha com a História e os Estudos Sociais para combater a pobreza e a miséria, o crime e a discriminação, e fazer a nossa nação mais justa e mais livre. Cada um vai precisar da criatividade e da inventividade que se desenvolvem em todas as aulas para abrir novas empresas, que criarão os nossos empregos e impulsionarão a nossa economia.
Nós precisamos que cada um de vós desenvolva os seus talentos, habilidades e intelecto para que ajudem a resolver os nossos problemas mais difíceis. Se não fizerem isso, se saírem da escola, não desistem apenas de vós próprios, mas do nosso país.
Eu sei que nem sempre é fácil que corra tudo bem na escola. Eu sei que muitos de vós têm desafios nas suas vidas pessoais que podem dificultar a concentração nas tarefas. Eu entendo. Eu sei como é isso. O meu pai deixou a minha família quando eu tinha 2 anos e fui criado por uma mãe solteira que, às vezes, sofria para pagar as contas e nem sempre podia dar as coisas que as outras crianças tinham. Houve alturas em que eu senti falta de ter um pai na minha vida. Houve alturas em que eu me sentia solitário e desajustado.
Nesses momentos, eu nem sempre estive tão concentrado quanto devia. Fiz algumas coisas de que não me orgulho, e tive mais problemas do que devia. A minha vida podia ter, facilmente, ido pelo pior caminho. Mas eu tive sorte. Tive muitas segundas oportunidades e tive a chance de ir para a faculdade e para o curso de Direito, e assim seguir os meus sonhos. A minha mulher, a nossa primeira-dama, Michelle Obama, tem uma história parecida. Nenhum dos nossos pais tinha ido à faculdade e nenhum deles tinha muito. Mas eles trabalharam duro, e ela trabalhou duro e frequentou as melhores escolas deste país.
Alguns de vós podem não ter essas vantagens. Talvez não tenham adultos nas vossas vidas que dêem o apoio de que precisam. Talvez alguém na família perdeu o emprego e não há dinheiro. Talvez vivam numa vizinhança onde não se sentem seguros ou tenham amigos que os pressionem a fazer coisas que não são certas.
Mas, no fim das contas, as circunstâncias da sua vida - como vocês são, de onde vêm, quanto dinheiro têm, o que acontece nas vossas casas - não são desculpa para negligenciar as tarefas de casa ou ter um mau comportamento. Não há desculpa para responder ao seu professor, para faltar às aulas, para deixar a escola. Não há desculpa para não tentar.
Não é preciso que onde cada um está agora determine onde cada um vai acabar. Ninguém escreveu o destino pra vocês. Aqui na América cada um escreve o seu destino. Cada um faz o seu futuro. É isso que jovens como vós estão a fazer todos os dias, em todo o país.
Jovens como Jazmin Perez, de Roma, no Texas. Jazmin não falava inglês quando chegou à escola. Quase ninguém da cidade dela foi para a faculdade, e os pais dela também não. Mas ela trabalhou duro, tirou boas notas, ganhou uma bolsa na Universidade de Brown, e está agora na faculdade, estudando saúde pública, em vias de se tornar a Dra. Jazmin Perez.
Estou a pensar em Andoni Schultz, de Los Altos, na Califórnia, que luta contra um câncer no cérebro desde os 3 anos. Ele passou por todo tipo de tratamentos e cirurgias, e um deles atingiu a sua memória. Por isso ele precisava de muito mais tempo - centenas de horas extras - para fazer as lições de casa. Mas nunca se sentiu mal e vai para a faculdade neste Outono.
E há ainda Shantell Steve, da minha cidade, Chicago, em Illinois. Mesmo passando de um abrigo para outro nas piores vizinhanças, ela conseguiu um emprego no centro de saúde da comunidade; iniciou um programa para manter os jovens longe dos gangues; e agora está a caminho de concluir o ensino médio com mérito e depois passar à faculdade.
Jazmin, Andoni e Shantell não são diferentes de nenhum de vós. Eles enfrentaram desafios nas suas vidas, tal como vocês. Só que se recusaram a desistir. Assumiram toda a responsabilidade pela sua própria educação e estabeleceram metas. E eu espero que todos vós façam o mesmo.
É por isso que, hoje, estou pedindo que cada um de vós estabeleça as suas próprias metas de educação e faça tudo o que puder para alcançá-las. A meta pode ser simples como fazer as tarefas e prestar atenção na aula ou reservar um pedaço do dia para ler um livro. Talvez decidam envolver-se numa actividade extracurricular ou serem voluntários nas vossas comunidades. Talvez decidam defender crianças que estão a ser provocadas ou agredidas por causa daquilo que são ou das suas aparências porque vós, como eu, acreditais que qualquer criança merece um ambiente seguro para estudar e aprender. Talvez decidam cuidar melhor de vós para ficarem mais preparados para aprender.
E, nesse sentido, espero que todos lavem muito as mãos e fiquem em casa quando não se estiverem a sentir bem, para evitar que as pessoas apanhem a gripe neste Outono e Inverno.
O que quer que decidam fazer, eu quero que se comprometam. Quero que realmente trabalhem nisso. Eu sei que, às vezes, vocês acham, pela TV, que se pode ser rico e bem-sucedido sem trabalhar duramente -que o passaporte para o sucesso é ser cantor de rap ou estrela de basquete ou de um reality show, quando a maior probabilidade é que você nunca seja nada disso.
A verdade é que ser-se bem-sucedido é difícil. Vocês não vão gostar de todas as disciplinas que estudarem. Não se vão apegar a todos os professores. Nem todas as tarefas vão parecer relevantes para a vossa vida nesse minuto. E não vão, necessariamente, dar-se bem em tudo na primeira vez que tentarem.
Tudo bem. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo são aquelas que tiveram mais fracassos. O primeiro 'Harry Potter' de JK Rowling foi rejeitado 12 vezes antes de ser finalmente publicado. Michael Jordan foi rejeitado da equipa de basquete da sua escola, perdeu centenas de jogos e errou milhares de lançamentos durante a carreira. Uma vez ele disse: 'Eu falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E por isso eu venci.'
Essas pessoas venceram porque elas sabem que não se pode deixar que os fracassos definam o que somos - precisamos é que eles nos ensinem. É preciso deixar que eles nos ensinem o que devemos fazer de diferente na próxima vez. Se um de vós se meter numa confusão, não significa que seja um arruaceiro, mas que precisa de se esforçar mais para se comportar. Se um de vós tirar uma nota má, não significa que seja burro, mas que precisa estudar mais.
Ninguém nasce sendo já bom nas coisas. Fica-se bom trabalhando muito. Ninguém é um atleta da primeira vez que joga um desporto novo. Ninguém acerta em todos os tons da primeira vez em que canta uma música. É preciso treinar. Na escola é a mesma coisa. Podemos ter que resolver um problema de Matemática algumas vezes antes de acertar, ou ler várias vezes antes de entender, ou fazer alguns rascunhos num papel antes de ter algo suficientemente bom para apresentar.
Não tenham medo de fazer perguntas. Não tenham medo de pedir ajuda quando precisarem. Eu faço isso todos os dias. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, é sinal de força. Mostra que você tem a coragem de admitir que não sabe algo e de aprender coisas novas. Encontre um adulto em quem confie - um pai, um avô ou um professor, um treinador ou um conselheiro - e peça-lhe para o ajudar a continuar na linha e alcançar as suas metas.
E mesmo quando estiver sofrendo, mesmo quando estiver desencorajado, quando sentir que os outros desistiram de si - não desista de si próprio. Por que quando alguém desiste dele mesmo, desiste do seu país.
A história da América não tem pessoas que desistiram quando as coisas se complicaram, mas sim pessoas que continuaram, que tentaram com mais empenho, que amaram o país tanto que não podiam fazer menos do que o melhor.
É a história de estudantes que se sentaram onde vocês se sentam, há 250 anos, e que enfrentaram uma revolução e fundaram esta nação. Estudantes que se sentaram onde vocês se sentam, há 75 anos, e que superaram a Grande Depressão e ganharam a Guerra Mundial; que lutaram pelos direitos civis e puseram o homem na lua. Estudantes que sentaram onde vocês se sentam, há 20 anos, e fundaram o Google, o Twitter e o Facebook, mudando o modo como nos comunicamos uns com os outros.
Então, hoje, eu quero perguntar-vos, qual será a vossa contribuição? Quais os problemas que irão resolver? Quais as descobertas que vão fazer? O que dirá um presidente que esteja aqui, daqui a 20 ou 50 anos, sobre o que fizeram por este país?
As vossas famílias, os vossos professores e eu faremos tudo o que pudermos para assegurar que tenham a educação de que precisam para responder essas perguntas. Eu estou trabalhando arduamente para arranjar as vossas salas de aulas e comprar livros, equipamentos e computadores de que precisam para aprender.
Mas vocês têm que fazer a vossa parte também. Espero por isso que levem a sério este ano. Espero que dêem o melhor de vós em tudo o que fizerem. Espero grandes coisas de cada um de vós. Não nos decepcionem - não decepcionem a vossa família, o vosso país nem vós mesmos. Façam com que todos fiquemos orgulhosos. Eu sei que vocês podem.
Obrigado. Que Deus vos abençoe e que Deus abençoe a América.